terça-feira, 20 de outubro de 2009

A origem indígena do gaúcho

Discurso realizado na sessão solene em comemoração ao 20 de setembro de 2009, no Parque Eduardo Gomes

Estamos no aniversário dos setenta anos de Canoas e o atual governo municipal foi eleito no embalo da mudança. Passados dois terços do primeiro ano de mandato, pesquisas indicam que os moradores de canoas têm uma alta expectativa no governo Jairo Jorge e Beth Colombo apoiada nas políticas públicas anunciadas, na facilitação de acesso aos serviços básicos e nos trinta projetos estratégicos em construção. Dirigentes públicos, servidores municipais, lideranças comunitárias interagem nos vários conselhos e espaços de participação popular e cidadã, em especial no orçamento participativo e na prefeitura na rua.

Prefeito, Vice-prefeita, secretários e diretores em dias de semana e aos sábados atendem cidadãos sem agenda prévia, cada um podendo expressar suas opiniões, angústias, pedidos e anseios. A instituição pública municipal em seu papel dirigente ganha um componente de humildade e de estar a serviço mais que um status ou um poder de mando. Com sete meses de governo, a população é presenteada com o início imediato de obras de asfalto, construção de salas de aula, abrigos nas paradas de ônibus e qualificação de praças.

Vislumbramos mais: no aniversário dos setenta anos, fomos convocados para repensarmos o presente e o futuro do município, sob o lema: “Voa Canoas”! é um convite ao protagonismo, à construção do futuro. Para construirmos o futuro, temos que saber quem somos, de onde viemos, para onde vamos!



O lema desta semana farroupilha nos ajuda a fortalecer as nossas origens, pois “a chama da tradição brilha mais forte no coração canoense”. Ninguém, dúvida de que estas terras riograndenses foram habitadas pelos guaranis, Kaiganges e Minuanos. No entanto, nossa construção moderna gaúcha está na civilização herdeira dos colonizadores luso-açorianos-portugueses do século XIX? Temos nosso início nas civilizações guaraníticas dos sete povos das missões que povoaram esta terras por cento e cinqüenta anos, e foram dizimados pela união dos exércitos do império espanhol e português, para garantir a correta partilha européia do solo latino-americano.

Gostamos de dizer que nós gaúchos vivemos uma eterna rivalidade. Nas origens, portugueses e espanhóis; mais tarde ma epopéia farroupilha: farrapos e imperiais. Na seqüência monarquista: liberais e conservadores. Depois, chimangos e maragatos, borgistas e assisistas, trabalhistas e conservadores, diretia e esquerda, gremistas e colorados. Vivemos uma permanente rivalidade.

Das rivalidades originais temos terríveis episódios: nas disputas entre portugueses e espanhóis, quem levou a pior foram os guaranis. Com Sepé Tiaraju, que caiu no dia sete de fevereiro de 1756 e três depois seus 1.500 companheiros na batalha de Caiboaté, sucumbiu uma grande civilização que em pleno século dezoito chegou a construir cidades como São Miguel, reunindo mais de dez mil cidadãos numa democracia que anualmente escolhiam seu prefeito, o Corregedor, seus juizes e ficais de campo, cidade onde a miséria não era conhecida, a alegria de viver era grande e o mal não existia. Voltaire, um dos maiores filósofos de então, ao empreender viagem ao novo mundo, descrita no livro Cândido, afirma que a “civilização guaranítica é o maior triunfo da humanidade até então”. Não é suficiente sabermos que Sepé Tiaraju gritou em alto e bom som contra os exércitos imperiais: Esta terra tem dono!

A epopéia Farroupilha está nas nossas origens e devemos valorizar os feitos de nossos heróis. O escravo que tinha vida curta nas charqueadas, pois o sal comia o corpo negro, foi fundamental na coluna dos lanceiros negros. Qual seu destino: o massacre de Porongos!

Rivalidades históricas, rivalidades simbólicas.... Para mim, rivalidades criadoras. Sem esquecermos a história dos vencidos e dos vencedores, temos nós canoenses uma missão importante no campo da identidade e da cultura: conhecer toda nossa história pra que nossa boas façanhas sirvam de exemplo para todas a terra, mas sobretudo para nós gaúchos. Temos que pesar o custo social desta façanhas!

Fruto das façanhas canoenses dos últimos tempos, temos crianças sem acesso a educação infantil. As que tem acesso á educação em nossa escolas, temos que qualificar o estudo de nossas origens, da nossa identidade. Temos famílias que estão morando em situação irregular. Todos os canoenses sabem a história de seus antepassados, para além dos avós, dos bisavós. Quantos descendentes de Sepé Tiaraju que se esparramaram pelas fazenda luso-portuguesas; quantos herdeiros dos negros das charqueadas que sobreviveram nos matadouros de pouco mais de cento e cinqüenta anos. Vieram os alemães, os italianos, os franceses, os poloneses e tantas outras etnias. Somos uma riqueza de rivalidades!

Com o perdão de todos e de Érico Veríssimo que tanto nos encanta na sua trilogia O Tempo e o Vento, precisamos reescrevê-la. Primeiro, para dar um espaço maior ás civilizações guaraníticas, do que a referência primordial da mulher grávida que dá a luz ao Pedro Missioneiro, bastardo filho de um padre jesuíta da cidade de São Miguel. Depois para incluis as sagas dos sobrantes escravos das charqueadas e do massacre de Porongos. E por fim, para incluir as novidades que pretendemos construir aqui em Canoas. Por isto, sonho que da nossa criançada e juventude, quem sabe num futuro próximo, tenhamos quem se anime a ser o que irá reescrever o Tempo e o Vento, a nova grande referência literária do Rio Grande.

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