quarta-feira, 20 de maio de 2009

Homenagem aos 25 anos da ACADEF

Discurso em homenagem a ACADEF (Associação Canoense dos Deficientes Físicos), no dia 19/05, no Grande Expediente da Câmara de Vereadores de Canoas

fotos: Fernanda Nascimento
Saudações...

Do sonho ao protagonismo social... vinte e cinco anos de rica e emblemática caminhada da Associação dos Deficientes Físicos de Canoas - ACADEF!

Senhoras e senhores! Comecei a ter consciência como pessoa humana num ambiente agrário dos anos sessenta e início dos anos setenta do século passado. Minha primeira comunicação na família e na comunidade foi através do dialeto italiano. Costumo dizer que ainda me considero aprendiz na comunicação pela língua portuguesa na versão brasileira. Aluno no ensino primário em escola municipal, em Carlos Barbosa, recebíamos seguidamente a visita do prefeito Edvaldo Loose, cidadão portador de deficiência física na perna esquerda. Minha comunidade era de oposição política ao partido do prefeito. Imaginem as expressões pejorativas que os patrícios italianos utilizavam visando à desqualificação da liderança do prefeito! No dialeto italiano, existem expressões com forte significação: perna seca, homem incompleto, resultado de um pecado familiar! Meu pai, homem sábio apesar da rudeza do agricultor, nos repreendia quando pronunciávamos estas expressões. Era um dos poucos da oposição que não concordava com esta disputa política do senso comum.Costumava argumentar que mesmo portando esta deficiência física, o prefeito era um homem com qualidades superiores a muitos cidadãos inteirinhos.

Toda vez que mais recentemente eu ouvia o líder sindical, deputado federal e hoje senador, Paulo Reanto Paim - minha cara amiga Oni Terezinha, tu que tivestes como eu o privilégio de caminhar e trabalhar com este valoroso guerreiro - este homem público que no auge de seus pronunciamentos, bebendo na experiência sul-africana de Nelson Mandela e da comunidade negra norte-americana de Martin Luther King, costumando proclamr que a nobreza da mulher e do homem não se mede pela cor da pele, nem pela sua convicção religiosa ou política, muito menos pela sua beleza e integridade física, mas pelas idéias, valores e práticas que constroem vidas e solidificam comunidades e povos. Como não reforçar nossas convicções de respeito e cuidado com à diversidade, ideais que rejeitam com valentia todas as formas de preconceito e discriminação! Como não nos alegrar e regojizar com construções associativas de inclusão social, sonhadas, organizadas, articuladas com e pelo protagonismo dos próprios excluídos que não se resignaram ao conformismo, não se lançaram à lamentação de suas condições, mas empreenderam esta caminhada de vinte e cinco anos da ACADEF.

Meu caro Jorge Cardoso! É claro que o ano Internacional da Pessoa com Deficiência, instituído pela ONU em 1981 criou as condições deste segmento social despertar-se e despertar a todos desta realidade. Uma realidade para muitos presente, mas invisível: o alto índice de pessoas portadoras de deficiência, cerca de dez por cento da população: a discriminação e o preconceito nos hábitos sociais: a insuficiência das políticas públicas segregacionistas que “atolam” o deficiente na caridade e vida excludente. O novo nisto tudo é que emergiu o protagonismo dos próprios portadores de deficiência em serem sujeitos de sua história, como esta da ACADEF. Um história de muitas dificuldades, mas também de muita obstinação, aprendizado e quebra de paradigmas, meu caro Presidente Tarcízio Cardoso. Enriquece, dá orgulho e não macula em nenhum momento a história desta instituição! Nos primórdios, a luta pela acessibilidade nas estações do TRENSURB; as coletas de assinaturas para emendas à Constituição Cidadã, tão pertinentemente apresentadas pelo vereador e deputado constituinte de nossa cidade Ivo Lech, também sonhador e protagonista da ACADEF, presidindo a Sub-Comissão das Minorias na Constituinte. Ações que resultaram nos avanços significativos de políticas públicas e mecanismos de controle social como são os conselhos e as conferências, espaços que nesta cidade a ACADEF não só participa mas ajudou a construir boa parte deles. Ações articuladas em reuniões que utilizavam salas de estar familiares, espaços emprestadas de escolas e clubes, até salas alugadas que amargaram ordens de despejo! Tudo isto não impediu que os acadefianos seguissem sonhando, semeando, cuidando com amor, ternura, formulando objetivos claros, para nos últimos quinze anos terem construído este tão exemplar e majestoso espaço na Rua Fernando Abott. Espaço ainda insuficiente, mas espaço nobre e referencial no meio deste segmento, em que a comunidade acadefiana presta tantos serviços a comunidade canoense e a região metropolitana, reabilitando e incluindo nas áreas da saúde, assistência social, qualificação profissional, inserção no mercado de trabalho, segurança alimentar, educação digital e educação ambiental. Não podia ser diferente, nosso prefeito Jairo Jorge, participe deste processo histórico de protagonismos, integrar esta parceria aceita pela ACADEF, de instalar-se neste ano o Centro de Referência com reabilitação clínica no âmbito do Sistema Unuci de Saúde e de inclusão socioprofissional, no âmbito do Sistema Único de Assistência Social.


Já é do conhecimento da direção da ACADEF, e aqui neste momento dou meu testemunho público: Em 1999, ao seguir uma determinação de meu sempre governador Olívio Dutra, o de garantir protagonismo aos sujeitos sociais nas políticas públicas - ao dirigir por quatro anos o Qualificar-RS, como diretor do Trabalho na Secretaria do trabalho e Assistência Social - pude contar com a ACADEF como parceira em ações de qualificação par a comunidade dos portadores de deficiências. Grande parceria e a faria de novo com prazer. Mas o maior prazer era o de ver os que a questionavam, se renderam ao argumento de que nesta ONG os protagonistas e sujeitos eram os próprios participes da comunidade beneficiada.


Eu não posso deixar de destacar o papel importante que setores de nossa Igreja Católica têm desempenhado nesta caminhada de protagonismos que emergiram nas últimas quatro décadas no Brasil. Reconheço as críticas públicas de repúdio e me associo às mesmas quando se constata construções paternalistas de setores eclesiais católicos e de pastorais em relação aos portadores de deficiências. Reivindico-me herdeiro da caminhada das CEBs que alimentaram muitos militantes nos movimentos sociais, sindicais e na política partidária. Bebo das fontes do programa de Jesus Cristo, no princípio ético da valorização da vida desde e com os pequenos e excluídos, neste caso os discriminados. Nosso valoroso padre Armindo Catellan, honrosa, sábia e profética figura pública canoense e sulriograndense que abriu as portas da Paróquia São Luiz para que o primeiro sonho da ACEDF pudesse tomar materialidade, é uma destas pessoas libertárias que merecem lembrança nesta ocasião e certamente em muitas outras.

Enfim, do sonho ao protagonismo social, onde após vinte e cinco anos, novos e novos sonhos continuam e continuarão a alimentar mais protagonismo social. Por isto, meu mandato construiu este quadro que a passamos à comunidade acadefiana, querendo nesta singela lembrança, homenagear e simbolizar todas esta rica caminhada que orgulha toda a comunidade canoense e dos portadores de deficiência física do Brasil.

0 comentários:

Postar um comentário