(Publicado no Diário de Canoas em fevereiro de 2017)
A convalescência e morte de Marisa
Letícia Lula da Silva oportunizaram manifestações contraditórias de memória
coletiva brasileira. Houve gestos de solidariedade de personalidades públicas -
ex-presidentes e o atual presidente da república, dentre outros –, de líderes e
militantes sindicais e partidários com os quais Marisa foi liderança seminal. Os
meios de comunicação repercutiram a dor e o luto desta finda trajetória
histórica que enriqueceu o movimento social.
No
entanto, indignas manifestações de ódio, rancor e ressentimento inundaram as
redes sociais, comemorando a sua partida como um expurgo social. Muitas dessas, justificadas em nome de Deus e de
princípios cristãos. Ora, os princípios cristãos não pregam a tolerância, a paz
e a solidariedade para estes momentos? Deriva da sabedoria bíblica a máxima
popular: “Deus condena o pecado, mas ama o pecador”. A reação do Papa Francisco
foi contundente: “Quando você comemora a morte de alguém, o primeiro que morreu
foi você mesmo”.
Espero
que tenha sido uma exceção e não uma regra o que ocorreu na sessão legislativa canoense
do dia 7 de fevereiro, quando a vereadora Maria Eunice, com o apoio dos
vereadores da bancada do PT, propôs um respeitoso minuto de silêncio. Em ato
inédito, o presidente não acolheu a solicitação e a colocou em debate e
deliberação do conjunto dos vereadores. Após 40 minutos, uma maioria de nove a
sete impossibilitou o ato. Este debate está postado no Youtube: https://www.youtube.com/watch?v=hfTJwVpBVAo.
Argumentos
de disputa de posição política ou de intolerância social não dão conta deste
fenômeno. Identifico uma perda dos valores próprios do luto e da tradição
representativa de legisladores em solidarizarem-se com os milhões de brasileiras
e brasileiras que sofreram a perda desta mulher, esposa, sindicalista,
militante política e ex-primeira dama por oito anos da república brasileira!
Ivo Fiorotti, vereador, teólogo
e mestre em Memória Social e Bens Culturais.
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