Os escritores Frei Betto e Leonardo Padura são daqueles que
não esconderam as mazelas da luta interna das esquerdas socialistas. Através
deles conhecemos mais detalhes do emblemático assassinato de Leon Trotski, a
mando de Stalin. Suas vidas, falas e escritos permanecem sendo alimentos
saborosos, de pão e beleza, que mantêm vivos os sonhos e a luta cotidianamente
construída dos militantes da civilização humanitária. Nós, os filhos da utopia
da vida em abundância e feliz, includente de todos, com todos e para todos.
Iniciei minha militância política em ambiente universitário
ouvindo de muitos colegas de esquerda que nós “igrejeiros” não éramos
confiáveis. Nos jogavam na cara que os frades dominicanos possibilitaram a
prisão de Carlos Marighela. Alguns falavam de traição. Foi Frei
Betto quem nos desvendou estas mentiras inicialmente disseminadas para
dificultar a união das esquerdas com os textos Cartas da Prisão e Batismo de
Sangue, revelando a barbárie da ditadura e a perseverança dos
militantes pela democracia. Seus escritos ajudaram a criar o espaço de diálogo
e coesão no campo da esquerda. Foi um dos que contribuiu com a união de militantes
das igrejas cristãs, do sindicalismo e dos grupos marxistas, no final da década
de setenta e início de oitenta. Participou da construção de ferramentas como a
Central Única dos Trabalhadores, o Partido dos Trabalhadores e tantas
organizações do movimento popular e social do Brasil recente.
Já na década de sessenta aprendeu a indignar-se com a
desigualdade social produzida pelo capitalismo. Militante da juventude
estudantil de inspiração francesa, bebeu das fontes de Jesus Cristo e de Karl Marx.
Fé e coerência histórica com os excluídos sustentaram a resistência no cárcere
dos anos setenta. Agentes de pastoral, profissionais liberais, militantes
comunitários e sindicalistas passaram a lotar auditórios para beber de suas
reflexões atualizadoras. Sua vida, escritos e falas fortaleceram os que lutam
pela superação das desigualdades e exclusões.
Ao ler “O homem que amava os cachorros” de Padura, mais do
que rememorar as artimanhas do assassinato de Trotsky, identificamos os desejos
e as ações cotidianas que alimentam e fortalecem nossa incessante luta emancipatória.
Que honra tê-los juntos, no dia 29 de junho na feira do livro, nesta cidade canoense
que inclui com inovação e participação. Para mim, será a oportunidade de ouvir
a voz deste Padura tenho ouvido pelos seus escritos e reouvir as falas de Frei
Betto. Em especial, a versão das oito bem-aventuranças do eterno Nazareno,
traduzidas nas vias sempre atuais dos que querem buscam ser felizes.
Ivo
Fiorotti, vereador e Mestre em Memória Social e Bens Culturais.
0 comentários:
Postar um comentário