sexta-feira, 30 de junho de 2017

2015 - Frei Betto, Leonardo Padura e as bem-aventuranças

     Os escritores Frei Betto e Leonardo Padura são daqueles que não esconderam as mazelas da luta interna das esquerdas socialistas. Através deles conhecemos mais detalhes do emblemático assassinato de Leon Trotski, a mando de Stalin. Suas vidas, falas e escritos permanecem sendo alimentos saborosos, de pão e beleza, que mantêm vivos os sonhos e a luta cotidianamente construída dos militantes da civilização humanitária. Nós, os filhos da utopia da vida em abundância e feliz, includente de todos, com todos e para todos.
         Iniciei minha militância política em ambiente universitário ouvindo de muitos colegas de esquerda que nós “igrejeiros” não éramos confiáveis. Nos jogavam na cara que os frades dominicanos possibilitaram a prisão de Carlos Marighela. Alguns falavam de traição. Foi Frei Betto quem nos desvendou estas mentiras inicialmente disseminadas para dificultar a união das esquerdas com os textos Cartas da Prisão e Batismo de Sangue, revelando a barbárie da ditadura e a perseverança dos militantes pela democracia. Seus escritos ajudaram a criar o espaço de diálogo e coesão no campo da esquerda. Foi um dos que contribuiu com a união de militantes das igrejas cristãs, do sindicalismo e dos grupos marxistas, no final da década de setenta e início de oitenta. Participou da construção de ferramentas como a Central Única dos Trabalhadores, o Partido dos Trabalhadores e tantas organizações do movimento popular e social do Brasil recente.
         Já na década de sessenta aprendeu a indignar-se com a desigualdade social produzida pelo capitalismo. Militante da juventude estudantil de inspiração francesa, bebeu das fontes de Jesus Cristo e de Karl Marx. Fé e coerência histórica com os excluídos sustentaram a resistência no cárcere dos anos setenta. Agentes de pastoral, profissionais liberais, militantes comunitários e sindicalistas passaram a lotar auditórios para beber de suas reflexões atualizadoras. Sua vida, escritos e falas fortaleceram os que lutam pela superação das desigualdades e exclusões. 
         Ao ler “O homem que amava os cachorros” de Padura, mais do que rememorar as artimanhas do assassinato de Trotsky, identificamos os desejos e as ações cotidianas que alimentam e fortalecem nossa incessante luta emancipatória. Que honra tê-los juntos, no dia 29 de junho na feira do livro, nesta cidade canoense que inclui com inovação e participação. Para mim, será a oportunidade de ouvir a voz deste Padura tenho ouvido pelos seus escritos e reouvir as falas de Frei Betto. Em especial, a versão das oito bem-aventuranças do eterno Nazareno, traduzidas nas vias sempre atuais dos que querem buscam ser felizes.


Ivo Fiorotti, vereador e Mestre em Memória Social e Bens Culturais.

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